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Desafios enfrentados pelos comerciantes durante a baixa temporada

Desafios enfrentados pelos comerciantes durante a baixa temporada

Desafios enfrentados pelos comerciantes durante a baixa temporada

Os dias de maré baixa para o comércio local

Enquanto os turistas se afastam e as praias ficam mais serenas, muitos comerciantes da região litorânea enfrentam uma realidade menos idílica: a baixa temporada. Entre prateleiras cheias, mesas vazias e contas vencendo, manter um negócio de pé entre os meses de pouca movimentação é um verdadeiro teste de resistência, criatividade e, acima de tudo, planejamento.

É durante esse período que se revela quem realmente conhece seu público e sabe alinhar expectativas com ações estratégicas. “Ter um comércio na orla é como surfar uma onda: se você não souber a hora de remar, certamente será engolido pelo mar”, comenta Rafael Almeida, proprietário de um restaurante em Caiobá há mais de 12 anos.

Quando o movimento desacelera, os custos não

O primeiro desafio escancarado durante a baixa temporada é o desequilíbrio entre fluxo de caixa e despesas fixas. O aluguel continua – muitas vezes nas alturas por conta da baita valorização imobiliária nas regiões turísticas – e os encargos sociais e trabalhistas também não dão trégua.

Enquanto isso, o movimento nas ruas cai drasticamente. Aquele turista fiel que vinha todo janeiro some como o sol às cinco da tarde no inverno. E então surgem as perguntas inevitáveis: como segurar a operação até que a maré volte a subir? Reduzir a equipe? Ajustar o horário de funcionamento? Virar totalmente para o delivery?

“Nos meses de maio a setembro, temos que agir quase como um outro negócio. Fazemos pratos executivos, promoções para moradores locais e até curso de culinária para manter as portas abertas”, relata Ivete Cardoso, dona de um bistrô em Guaratuba. A adaptação é regra, não exceção.

Fidelizar o morador local: um trunfo nem sempre explorado

Não é raro ver comerciantes apostando todas as fichas no turismo de verão. No entanto, muitos ainda negligenciam o potencial do público residente. O morador local, que está ali fora de temporada, também come, bebe, consome e, principalmente, pode ser fiel ao longo de todo o ano.

Investir em ações específicas para esse público é mais do que recomendável – é vital. Cartões fidelidade, eventos voltados para a comunidade, combos promocionais ou até descontos para moradores são exemplos de iniciativas que vêm ganhando espaço entre os comerciantes mais atentos.

“A gente começou com noites de música ao vivo às sextas, com entrada gratuita para quem mora em Matinhos. Hoje, essas noites sustentam boa parte do nosso faturamento na baixa temporada”, afirma Douglas Lima, gerente de um bar na Avenida Atlântica.

Parcerias e colaborações: concorrente ou aliado?

Outra estratégia muitas vezes subestimada é a colaboração entre empreendedores da região. Sim, é possível concorrer e cooperar ao mesmo tempo. Parcerias com hospedagens locais, instituições culturais ou academias, por exemplo, podem render frutos inesperados.

Algumas ideias que têm dado certo incluem:

“Formamos um grupo entre cinco negócios aqui na região central e fazemos ações promocionais conjuntas. No fim, a cidade inteira ganha: o cliente se sente acolhido, os estabelecimentos se fortalecem e o fluxo melhora visivelmente”, revela Catarina Pires, sócia de uma cafeteria que funciona o ano todo em Pontal do Paraná.

O papel do marketing digital fora da temporada

Ao contrário do que muitos pensam, o marketing digital não deve ser deixado de lado quando os clientes não estão fisicamente na região. Na verdade, é exatamente nesse período que as redes sociais e o marketing de conteúdo podem trabalhar a favor dos negócios, mantendo o relacionamento com o cliente e preparando o terreno para a próxima alta temporada.

Vídeos de bastidores, receitas exclusivas, depoimentos de clientes locais e até lives com artistas da região são conteúdos que engajam e mantêm a marca viva na cabeça do público – mesmo à distância. Uma ação recente de uma sorveteria em Itapoá ilustra isso: durante o inverno, apostaram em uma série de vídeos mostrando receitas com os sorvetes da casa adaptadas para o frio. O resultado? Um aumento de 40% no movimento nos fins de semana.

Plataformas como Instagram e WhatsApp Business se mostram aliados poderosos, especialmente quando bem utilizados para direcionar promoções, fornecer suporte ao cliente e estimular vendas.

A importância do planejamento de estoque e gestão financeira

Durante a alta temporada, muitos comerciantes operam no limite máximo de estoque. No entanto, a transição para a baixa exige um controle rigoroso dessa área. Prever com precisão o que será vendido e evitar perdas com produtos perecíveis ou obsoletos é fundamental para manter a saúde do negócio.

Por isso, o planejamento financeiro deve levar em conta a sazonalidade desde a elaboração do orçamento anual. Reservas para os meses de baixa, metas ajustadas e corte de gastos supérfluos ajudam a atravessar o período sem sufocos.

“O que a gente fatura em três meses sustenta os outros nove. Mas só se tiver gestão. Já perdi muito dinheiro com estoques encalhados, hoje compro tudo de forma quase cirúrgica”, reconhece João Batista, proprietário de uma loja de artigos de praia em Balneário Camboriú.

Inovar ou sucumbir: adaptabilidade como diferencial

Quem não se reinventa, corre mais risco de ficar pelo caminho. A baixa temporada, apesar de todos os seus desafios, também funciona como uma janela para testar ideias, ajustar processos e buscar inovações que talvez não fossem viáveis durante o sufoco da alta.

Alguns comerciantes estão apostando em:

Mais do que vender, trata-se de manter-se relevante. Negócio parado é negócio esquecido.

Políticas públicas e apoio institucional ainda engatinham

Embora o esforço individual dos comerciantes seja admirável, não se pode ignorar o papel – ou a ausência dele – do poder público e das entidades representativas. A falta de políticas concretas de incentivo ao comércio na baixa temporada ainda é o calcanhar de Aquiles dos destinos turísticos brasileiros.

Desde a ausência de eventos culturais até a escassez de campanhas de fomento ao turismo de inverno, o comércio enfrenta um período de desamparo institucional que poderia ser revertido com ações coordenadas. Um calendário turístico mais diversificado e contínuo ao longo do ano poderia fazer toda a diferença.

“Ficamos com a sensação de que a cidade é só para o verão. Depois de março, tudo esfria – inclusive o interesse do poder público”, lamenta Solange Ferreira, artesã em Paranaguá.

Resistir e reinventar-se: o espírito dos resilientes

Apesar de todas as dificuldades, a baixa temporada também revela o melhor de muitos comerciantes: a coragem de continuar, mesmo quando os ventos não sopram a favor. É nesse momento que os empreendedores locais – aqueles que vivem o litoral, não apenas exploram dele – mostram a essência do seu trabalho.

O comércio de uma cidade litorânea precisa ser, literalmente, feito de sal, suor e resistência. Porque o mar recua, mas sempre volta.

Então, se você é comerciante e está enfrentando os ventos gelados da baixa temporada: não desanime. Reinvente seu negócio, conheça melhor seu cliente, fale com seu vizinho comerciante. A próxima onda pode estar ali, se formando no horizonte. Só não perca o timing para remar.

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