Jornaldos Bairros Litoral

Perspectivas econômicas para pequenos empresários da região

Perspectivas econômicas para pequenos empresários da região

Perspectivas econômicas para pequenos empresários da região

Cenário Atual e os Desafios Locais

Com a economia nacional ainda em ritmo de recuperação e os reflexos da pandemia mais visíveis nos bairros do litoral, os pequenos empresários da região enfrentam um cenário desafiador — mas não sem oportunidades. Em cidades como Itajaí, Balneário Camboriú e Navegantes, onde o turismo sazonal e o comércio de bairro sustentam boa parte da economia, a sobrevivência e o crescimento dos pequenos negócios dependem, mais do que nunca, de adaptação veloz e estratégias precisas.

A inflação moderada, juros ainda elevados e o crédito restrito são entraves que têm freado investimentos locais. Mas quem anda pelas avenidas centrais ou pelos calçadões da orla sabe que há também sinais de resiliência. Farmácias, mercados de bairro e pequenos restaurantes familiares seguem firmes, reinventando serviços e abraçando canais digitais. A palavra de ordem é: flexibilidade.

Tecnologia: Inimiga ou Aliada?

Se há alguns anos digitalizar um negócio parecia um luxo, hoje é questão de sobrevivência. Quem ainda acredita que “site é coisa pra multinacional” ou que “redes sociais são perda de tempo” pode estar assinando o atestado de estagnação.

O caso de Júlia Ribeiro, dona de uma pequena loja de moda praia em Penha, mostra o contrário. Ao criar um perfil no Instagram e ativar vendas por WhatsApp, viu seu faturamento aumentar 35% ao longo de 2023. “Eu fazia tudo sozinha, mas hoje uso apps de design, agendamento e até de pagamento automático. Dá trabalho, mas funciona”, conta Júlia.

Ferramentas gratuitas ou de baixo custo permitem que microempreendedores da nossa região amplifiquem sua presença e fidelizem clientes. Entregar conteúdo útil nas redes sociais, responder com agilidade e manter um canal de pedidos simples já diferencia o pequeno do restante. Tecnologia não é o fim — é o meio.

Turismo Regional: Um Motor Ainda Subutilizado

O turismo continua sendo uma das maiores fontes de movimentação econômica no litoral catarinense. Mas, quantos pequenos negócios realmente aproveitam isso de forma estratégica? Vemos a hotelaria se profissionalizando, mas o mesmo nem sempre acontece com o comércio de rua, comércios gastronômicos ou lojas de artesanato.

O empresário que conhece o calendário de eventos da cidade e antecipa promoções estratégicas sai na frente. Campeonatos de surfe, festas populares e alta temporada atraem perfis variados. Criar pacotes ou produtos voltados para turistas, comunicar em outros idiomas e firmar parcerias com guias ou hospedagens são ações simples que geram retorno.

Afinal, o turista feliz com o atendimento em um pequeno café na Praia Brava dificilmente vai esquecer — e pode voltar no próximo verão, ou melhor: pode recomendar.

Captação de Recursos: Onde Está o Dinheiro?

Muitos empresários locais ainda encontram dificuldades para acessar linhas de crédito — parte por burocracia, parte por desconhecimento. Porém, nos últimos anos, bancos públicos e cooperativas de crédito ampliaram programas direcionados a micro e pequenas empresas. A questão é saber buscar.

BNDES, Sebrae, FINEP e agências como BRDE oferecem linhas com carência estendida e juros reduzidos, principalmente para setores como inovação, sustentabilidade ou impacto social. Além disso, o PRONAMPE (Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte) tem financiado reestruturações e capital de giro com taxas mais viáveis.

E tem um outro caminho que muitos ignoram: os editais e parcerias com a iniciativa privada. Startups locais que propuseram soluções para melhorar coleta seletiva ou transportes urbanos conseguiram apoio financeiro com empresas que atuam na região. Vale a pena dedicar algumas horas para estudar possibilidades fora do circuito bancário tradicional.

Formalização e Planejamento: O Bê-á-bá do Progresso

Não dá para construir uma empresa sólida com base no improviso. E, por mais óbvio que pareça, ainda há muitos negócios funcionando de maneira informal ou sem qualquer controle de fluxo de caixa. Isso limita o acesso a crédito, impede parcerias estratégicas e gera insegurança jurídica.

Profissionais como contadores e consultores do Sebrae, amplamente presentes em cidades do litoral, oferecem orientações gratuitas sobre formalização, regimes de tributação, e até planejamento de marketing. São ferramentas valiosas ao alcance de quem se dispõe a aprender.

Adotar gestão financeira simples, separar contas pessoais das contas do negócio, automatizar parte da operação e estabelecer metas claras são passos acessíveis e transformadores. Qual a diferença entre vender muito e lucrar bem? Planejamento.

O Poder das Parcerias Locais

Uma tendência que tem ganhado força em nossa região são as parcerias entre pequenos negócios. Em tempos de concorrência acirrada, colaboração pode ser um diferencial competitivo de peso.

Exemplos? Cafés firmando parcerias com livrarias independentes, academias criando programas em conjunto com nutricionistas locais, hotéis fechando pacotes com agências de turismo e pizzarias criando combos promocionais com cervejarias artesanais do bairro. Todos ganham: os empresários, os clientes e a própria reputação do negócio.

Com criatividade e abertura ao diálogo, é possível criar ecossistemas econômicos sólidos dentro dos próprios bairros. E não há nada mais promissor do que ver a economia girando de forma participativa.

Capacitação Contínua: Investimento que Retorna

O cenário econômico muda rápido — e quem não se atualiza, fica pelo caminho. Cursos online, oficinas, workshops gratuitos ou com valores acessíveis são ofertados regularmente por entidades regionais. O problema? Poucos aproveitam.

Não se trata apenas de aprender algo novo, mas de manter a empresa competitiva. O empresário que entende seu público, acompanha tendências e sabe lidar com dados está sempre um passo à frente. É como no futebol: talento ajuda, mas treino é essencial. E empreender é, sim, um esporte de resistência.

Como bem disse um palestrante no último Encontro de Pequenos Negócios em Camboriú: “Treine o empresário com a mesma dedicação com que você treina a equipe.”

Um Olhar Para o Futuro

Apesar das dificuldades, há um sentimento de reinvenção pairando sobre a economia de bairro. A pandemia acelerou transformações que já estavam a caminho, e hoje, os consumidores valorizam mais do que nunca o atendimento humanizado, os produtos de qualidade e a proximidade dos empreendedores locais.

O caminho para os pequenos empresários do litoral exige resiliência, mas, acima de tudo, visão. Aproveitar as oportunidades que estão dispersas — das redes sociais aos editais de fomento, do turismo local às parcerias criativas — é uma questão de mudança de postura.

A crise, como bem sabemos por aqui, não é novidade. Mas entre aqueles que reclamam e os que se renovam, é fácil prever quem vai cruzar a próxima maré no leme e não à deriva.

Como costumo dizer nas entrevistas com empresários da região: quem olha só para o problema, tropeça na solução. E, no litoral, vento forte é pra quem sabe navegar.

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